sexta-feira, 1 de novembro de 2019

Veio-me à lembrança...


Mulato, cabelo grisalho, sorriso doce, meigo e inteligente. 
Tinha sempre um sorriso e um piscar de olhos quando passava por algum aluno nos corredores.
As aulas enchiam-se para o ouvir falar de ensinares e aprenderes bem diferentes do habitual.
Os colegas docentes na faculdade, achavam-no  um pouco exótico e as professoras jingavam-se de forma diferente quando passavam por ele e ele lhes lançava um olhar intimidante.
Ao vigiar os exames e frequências, sacava do seu lanche e ficava deliciado a comer e a olhar-nos. Dizia que o seu passatempo preferido era olhar os alunos e descortinar-lhes tudo o que não diziam.
Um dia, disse-me a meio de uma aula, enquanto passava por mim, que eu ia ter pelo menos 3 filhos, pela posição como tinha as mãos! Depois  olhou-me já mais longe, e disse a sorrir: Não vais nada! Tens doçura demais!
Senti-me desnudada e triste. Não tinha relação uma coisa com a outra, eu sei, e nem ele o disse por ter. Mas o demais soou-me como ainda hoje me soa, a "coisa má"! Tudo o que é demais transborda. Como o leite quando ferve, se não se desliga o fogo a tempo... e depois é uma trabalheira danada a limpar o fogão.
Que parvoíce! Eu que aqueço o leite no microondas, estar preocupada com o fogão. Só eu para estar agora para aqui com estas coisas. Calo-me!
O professor já deve ter morrido, mas fica-me a lembrança do seu sorriso. Não tive 3 filhos, professor. Mas entendo o seu ponto de vista.
 Quanto à doçura... Há sempre a beira do prato, né?




2 comentários:

  1. Que na tua vida haja sempre doçura;)

    Olá, Esquilinha:)

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  2. Há muita, Legionário. Na minha vida e em mim e gosto dessa minha faceta. Tal como gosto de a espalhar por quem gosto.
    Ainda vai ficar tudo com diabetes 😄
    Tudo de bom 😉

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