«O ritual começava.
Por vezes era apenas uma mão que, desenvolta, me encontrava o sexo e o massajava, devagar... nesses momentos apenas a minha respiração pesada e o restolhar dos lençóis interrompiam o silêncio; de outras vezes a criatura entregava-se e executava, com a destreza de um atirador furtivo, os movimentos da boca e da língua que descrevi algures e tudo terminava com maior rapidez mas também com a sensação de uma derrocada - de uma explosão e de uma derrocada - e havia um gemido como o de um animal com fome e eu cravava a ponta dos meus dedos nos lençóis no terno conforto de já saber o final de uma história. Eu preferia esta segunda forma de prazer, embora ela me suscitasse maior melancolia; talvez porque uma boca é diferente de uma mão, talvez porque implica um compromisso maior e também um desgosto maior se, um dia, a virmos desaparecer para sempre da nossa vida.»
In Bom Inverno de João Tordo
